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último apunte de diario Sobre o futuro do movimento 15-M
   
 
26/05/2011 | Carlos Taibo | Crise - Estado espanhol/Espanha |
www.diarioliberdade.com (26 de maio de 2011)
 
Não é tarefa singela a de pronunciar-se sobre o futuro do movimento 15-M. O mais provável é que, conforme a vontade maioritária, os acampamentos sejam dissolvidos antes ou depois --é preferível encerrar racional e jocosamente esta etapa-- e se proceda a trasladar a atividade a bairros e vilas. Todo isto no bom entendido de que a possibilidade de restaurar o esquema inicial de concentrações com poderoso eco mediático não ficará em modo algum cancelado e de que, claro, o ritmo dos factos pode ser diferente nos distintos lugares.
O trânsito do recinto do espetáculo mediático ao mais modesto da ação local, embora em modo algum obriguem a cancelar possíveis iniciativas --campanhas, manifestações-- de caráter geral, parece deslizar o movimento face a uma tarefa mais difícil e menos vistosa, ao tiempo que, em sentido contrário, reduz os riscos de burocratização e os intentos de açambarcá-lo de fora. Não é de mais acrescentar uma observação sobre a singularidade própria da época do ano em que estamos: a proximidade do verão ora pode ser um inconveniente insuperável --as iniciativas e as mobilizações por força são reduzidas na maioria dos lugares-- como uma excelente oportunidade para recobrar forças e gizar uma boa ofensiva a partir de setembro. Também há que tomar em consideração o facto, interessante, de que o movimento veio à tona num momento marcado pelo final do ano letivo em universidades e liceus, algo que, com certeza, tem reduzido as suas hipóteses de decolação em umas e outros. A planificação ao respeito destas questões --que convida a pensar inevitavelmente no meio prazo-- é, em qualquer caso, uma tarefa vital no momento presente, tanto mais se forem convocadas eleições gerais para o outono.
Se me for pedido um prognóstico sobre o que acho vai acontecer com o movimento --e não sem antes avisar que no caminho pendem várias incógnitas, e entre elas os efeitos previsíveis dos intentos de moderar o discurso, por um lado, e da violência que o 15-M padecerá, pelo outro--, limitarei-me a expor quatro horizontes possíveis. O primeiro não é outro que o vinculado con um rápido e imparável declive; parece-me que semelhante perspetiva é bem improvável graças à vitalidade presente das iniciativas e da vontade geral de ir a mais. O segundo fala-nos de um eventual intento de colocar o movimento na arena política, através da gestação de uma nova formação ou da incorporação a alguma já existente. Acredito firmemente que as chances desta opção são muito reduzidas, na medida em que a maioria dos integrantes do 15-M não parecem sequer contemplá-la. Não pode ser descartada por completo, porém, uma mecánica de divisões e cisões, num grau ou outro vinculável com este segundo horizonte.
Uma terceira perspetiva diz-nos que o movimento poderia dar pé a uma sorte de extensão geral, mais bem vaga, dispersa e anónima, de formas de desobediência civil frente à lógica do sistema que padecemos. Não descarto em modo algum essa possibilidade, que seria uma sorte de manifestação abortada do que gostaria que cobrasse corpo realmente: falo do quarto, e último, horizonte, articulado em torno a uma força social, que desde perspetivas orgulhosamente assembleares e anticapitalistas, antipatriarcais, antiprodutivistas e internacionalistas, apostasse pela autogestão generalizada e inevitavelmente se abrisse aos contributos que devem chegar de setores da sociedade que ainda não acordaram. Essa força, que haveria de acolher no seu seio, claro, o movimento operário que ainda se opõe ao sistema e se enfrenta aos sindicatos maioritários, provocaria o afastamento de uma parte que no início se tem incorporado a manifestações e acampamentos.
Apenas se me ocorre aducir dois argumentos em proveito da materialização do último horizonte mencionado: se, por um lado, em muitas das assembleias realizadas nos acampamentos se revelaram por igual uma surpreendente madurez e uma mais que razoável radicalidade nas focagens --tem-se passado a miúdo da contestação da epidérmis que supoõem a corrupção e a precariedade à do coração do capitalismo e a exploração--, pelo outro devemos dar por descontado que os nossos governantes vão continuar pelo seu caminho, isto é, não vão modificar um ápice o roteiro das suas políticas. O facto de que tenham decidido morrer ao serviço do capital move audazmente, noutras palavras, a nossa carroça.
 
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